Em 2009 sonhar foi possível.
Ser cidadão livre é no essencial ser um sonhador e assim nasceu a ideia de colocar em cena vidas de personagens que tocassem a vida de tantas outras, que circulam por entre a gente, que são novos e velhos, que choram e riem e para quem o Mundo não é uma simples palavra.
Nasceu a in skené, um projecto feito de e para as pessoas, que tem como objectivo usar a Cultura como veículo de inclusão social. Ser utópico é não desistir nem baixar os braços e o Teatro é feito de lutas e desistências e é um espelho perfeito da existência humana. É por isso que desde 2009 este grupo abre a porta a dezenas de jovens de espirito, que se encontram no meio de olhares perdidos, no meio de inseguranças, que se diluem com o acender das luzes e com o acompanhamento da percussão das tábuas gastas de madeira dos palcos onde nasce o Tomás, a Matilde, o Pedro, a Sofia, a Graça, a Ana e tantos outros cujos nomes se confundem por entre as plateias.
É indescritível o sentimento que provocam os olhares perdidos e as palavras trémulas dos miúdos, das crianças que vivem em corpos de adulto, quando se encontram sozinhos num palco vazio.
A in skené muda estas vidas, porque se respira liberdade, porque se diluem preconceitos e porque se abrem portas.
Ninguém fica sozinho e no fim os abraços, os sorrisos, as gargalhadas e as amizades criam um corpo único. Não é um projecto associativo igual a tantos outros. Não é porque ultrapassa a dimensão social e chega ao fundo mais profundo do ser.
Nada vale mais do que uma carta que nos escreve um adolescente a agradecer pelo Tomás lhe ter feito perceber que a vida vale por si só. Nada vale mais do que ver um miúdo frágil ganhar força para dizer o que sente. Nada vale mais do que as gargalhadas puras daqueles que entraram com medos, com vergonhas fruto de violência na escola. A in skené aprende o significado do verbo amar a cada dia que passa e desse objectivo não desistimos.
Levar a cena textos de autores imortais é função de uma sociedade moderna, porque ampliam e amplificam as mensagens de verdade, justiça e humanismo, que se esbatem fora das salas de espectáculo. O Teatro não se pode desligar do seu papel fundamental de mudar mentalidades e gerações. Não aceitamos a condição de delinquente só porque a sociedade se esqueceu de olhar para um jovem depois da escola terminar. É nesta atenção que está a um dos eixos que tornam este projecto numa inovação social, num país onde a Cultura ganha conotação de acessório e numa época onde os valores não se pautam pelo humanismo e pelo valor da vida.
Esta foi uma opção nossa, que muitos não compreendem. Mas se fosse possível gravar cada segundo da vida destas pessoas que sentem o cheiro do papel e a força das palavras, veríamos um dos mais belos filmes sobre o significado do simplesmente estar. Estar in skené é aprender a ser humano com os outros e a identificar o papel individual e fundamental que cada um de nós tem na sua rua, na sua cidade, no seu país e no nosso Mundo.
Querer ser herói na pequena cidade de Gondomar, num pequeno país como Portugal é difícil. Mas são estas dezenas de pessoas que demonstram que os sonhos alimentam a vida.
A in skené deu os seus primeiros passos de bebé, mas já mudou a vida de tantos…
Partimos com as palavras de um grande actor português:
– Façam o favor de serem felizes!
Obrigado Raul Solnado!
É assim estar in skené…
João Ferreira